Por Claudio Cordeiro
A Inteligência Artificial está rapidamente se tornando uma das forças mais poderosas do século XXI, prometendo transformar desde a forma como trabalhamos até a maneira como decidimos o futuro de nossas cidades e nações. Porém, com tanto poder vem a inevitável pergunta: quem realmente controla a IA? A resposta, ao contrário do que se deseja, não é tão simples ou tranquilizadora.
Quando discutimos a evolução da IA, a imagem que muitas vezes se projeta é a de uma tecnologia imparcial e eficiente, tomando decisões de maneira racional, baseada em grandes volumes de dados. Mas esta imagem, por mais atraente que seja, é uma falácia. A IA é construída, programada e treinada por seres humanos. Ela é um reflexo dos valores, dos preconceitos e das intenções de seus criadores. Assim, a “neutralidade” da IA é mais um mito do que uma realidade.
Por trás dos algoritmos sofisticados e da promessa de um futuro mais eficiente, há pessoas. Pessoas que decidem quais dados alimentar, quais resultados esperar, e que têm, em suas mãos, o poder de conduzir a IA para o bem ou para interesses particulares. E é aqui que se encontra a maior vulnerabilidade: se a IA é uma ferramenta que pode influenciar decisões políticas, controlar narrativas e até definir o rumo de uma sociedade, quem garante que o seu uso será justo e ético?
Governos e organismos internacionais falam em regulamentação e controle, em supervisionar como a IA deve ser utilizada. A intenção é boa, mas será que isso realmente funcionará? No final das contas, regulamentações podem ser contornadas, e uma tecnologia tão poderosa nas mãos de quem detém o controle econômico e político não estará, por natureza, suscetível a ser utilizada em prol de seus próprios interesses? É difícil acreditar que não.
E quando pensamos no cenário político, o risco se torna ainda maior. Imagine uma IA influenciando campanhas eleitorais, promovendo ou ocultando narrativas conforme os interesses dos poderosos. Estamos falando de um poder subliminar, difícil de detectar, que pode manipular a opinião pública de forma massiva. Essa influência não será feita de maneira explícita, mas sim inserida de forma discreta e sofisticada, conduzindo a sociedade a conclusões e decisões que favoreçam aqueles que detêm o controle da tecnologia. Este não é apenas um cenário possível, mas uma realidade que, em menor escala, já vemos emergir.
Portanto, não nos enganemos: a IA não é uma entidade imparcial, muito menos autônoma. Até que possamos desenvolver uma forma completamente independente de IA (se isso for possível algum dia) a tecnologia estará sempre sob influência dos interesses humanos. E esses interesses, como sabemos, nem sempre são os melhores para o bem coletivo. Que nem a velha estória da urna eletrônica.
É por isso que precisamos ser críticos, questionar constantemente e exigir transparência. Quem está por trás da IA? Quais são os interesses dessas pessoas e empresas? E, acima de tudo, como podemos garantir que a tecnologia, com seu poder sem precedentes, seja utilizada para o benefício de todos, e não para aprofundar desigualdades e manipular sociedades?
A resposta não é simples. O controle da IA deve ser democrático, regulado, e sempre sujeito à vigilância pública. No entanto, a própria eficácia dessas regulamentações depende da honestidade e integridade de quem as cria e as aplica. No final, talvez a única verdadeira solução seja educar a sociedade para que todos entendam os riscos e possam participar ativamente desse debate, porém infelizmente sabemos que isso é impossível e não podemos nos enganar por mais que isso seja reconfortante.
A Inteligência Artificial é uma ferramenta incrível para a humanidade, mas sem uma governança clara e sem a responsabilização dos seus controladores, corremos o risco de que o seu uso seja orientado para objetivos que favoreçam poucos em detrimento de muitos. A grande questão é: estamos dispostos a confiar cegamente nas promessas de quem detém o poder sobre a IA? Ou vamos nos engajar para garantir que essa ferramenta seja usada de forma justa.
Tudo isso como sempre não passa de uma balela, sempre o poder terá um dono, um mandatário, onde poucos controla muitos, resumindo: manda quem pode, obedece quem tem juízo. E o mundo continua.
Cláudio Cordeiro, é consultor de marketing político e eleitoral, CEO da Gonçalves Cordeiro, publicitário, presidente do Sinapro e advogado