Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), integra o grupo de assessoramento técnico que elaborou do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção da Ictiofauna, Herpetofauna e Primatas do Cerrado e Pantanal (Cerpan). O objetivo é atingir a meta de reduzir o risco de extinção nos próximos cinco anos das espécies-alvo de peixes, anfíbios, répteis e primatas dos dois biomas.
A lista elaborada pelo grupo integra 43 espécies-alvo. Em solo mato-grossense, ocorrem dez dessas espécies, sendo o macaco-prego, um anfíbio, três lagartos, três serpentes e dois peixes. Para atingir as metas, o plano definiu 32 ações distribuídas em cinco objetivos específicos, que vão desde a divulgação da lista e fortalecimento de políticas públicas, como a promoção de ações para diminuição da caça, redução da degradação ambiental e restauração dos habitats naturais das espécies.
A rãzinha Allobates brunneus ocorre em uma pequena área fora Parque Nacional de Chapada dos Guimarães e está criticamente ameaçada de extinção (Foto: PPBio)
A perda e fragmentação de habitat devido às ações antrópicas (ações humanas) são apontados pelo relatório como as principais causas de ameaça às espécies. O estudo aponta as atividades agropecuárias como um gargalo, mas ressalta que o setor é de extrema importância para a economia brasileira. Para a secretária adjunta de Gestão Ambiental, Luciane Berttinato, os produtores rurais são parceiros na conservação ambiental e preservação das espécies e o Cadastro Ambiental Rural será uma importante ferramenta.
“É claro que Mato Grosso já vem desenvolvendo diversas ações para preservação e conservação das espécies, mas esbarramos na falta de mão de obra para implementar todas as ações em um território grandioso. Mais do que nunca está chancelado nosso Programa de Regularização Ambiental, no caso das áreas rurais com o CAR, prevê os corredores ecológicos. Então, o produtor rural é um grande parceiro no momento em que ele estabelece essa linha de corredor ecológico em sua propriedade, preservando os cursos d’água, reserva legal e fazendo com isso tenha uma interligação, garantindo que essa fauna tenha espaço adequado para viver”, destaca a gestora.
A política pública instituída por Mato Grosso está em consonância com a avaliação do Estado de conservação da fauna realizada pelo ICMBio, que aponta como solução para o problema a adoção de boas práticas agropecuárias que minimizem os impactos sobre as espécies e ecossistemas, sendo necessárias ações que busquem a regularização ambiental de propriedades rurais, bem como de restauração, visando ampliar a conexão entre áreas preservadas em Unidades de Conservação (UC) de valor estratégico.
O analista de meio ambiente da Sema, Marcos Cardoso, que representa a Sema no Grupo de Assessoramento Técnico (GAT/CERPAN), explica que a presença desses animais na natureza são bioindicadores da qualidade ambiental e é importante que a sociedade conheça quais são esses animais. “A sociedade desempenha um papel importante para termos um meio ambiente equilibrado. Por isso, a divulgação para que todos conheçam as espécies que, neste momento, merecem atenção redobrada é importante”, reforça o médico veterinário.
A presença desses animais é consideredada um bioindicador da qualidade ambiental. O calango Kentropix Vanzoi ocorre em várias cidades de Mato Grosso. (Foto: Rafael Valadão)
O grupo de assessoramento técnico ao Cerpan é composto por onze instituições entre órgãos federais, estaduais, universidades e institutos de pesquisa. O sumário executivo do Cerpan pode ser acessado em: http://bit.ly/2TqvkHU
As espécies-alvo identificadas com ocorrência em Mato Grosso são:
1) Sapajus cay (Macaco prego)
Categoria de risco de extinção: Vulnerável
Ameaças: Incêndio, assentamentos rurais, agricultura, pecuária, expansão urbana, vulnerabilidade a epidemias, desmatamento, aumento da matriz energética e rodoviária, desconexão e redução de hábitat, poluição de ambientes, caça e apanha. Em Mato Grosso do Sul há evidências de endogamia, como indivíduos polidáctilos, que apresentavam seis dedos nas mãos e pés, em fragmentos pequenos de um parque estadual.
Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/lista-de-especies/7270-mamiferos-sapajus-cay-macaco-prego
2) Allobates brunneus (rãzinha)
Categoria de risco de extinção: Criticamente Ameaçada
Ocorrência: pequena área fora do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.
Fonte: https://ppbio.inpa.gov.br/sapoteca/allobates_brunneus
3) Ameiva parecis (Calango)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: Sapezal
Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/8097-repteis-ameiva-parecis
4) Bachia didactyla (lagarto sem patas)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: Sapezal
5) Kentropyx vanzoi (Calango)
Categoria de risco de extinção: Vulnerável
Ocorrência: vários municípios de MT
Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/lista-de-especies/8163-repteis-kentropyx-vanzoi
6) Apostolepis serrana (Cobra rainha da Serra do Roncador)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: Ribeirão Cascalheira
[Holotype of Apostolepis serrana (BMNH.1972.430), from Serra do Roncador, Mato Grosso, Brazil. ]
Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Holotype-of-Apostolepis-serrana-BMNH1972430-from-Serra-do-Roncador-Mato-Grosso_fig3_319213383
7) Apostolepis striata (cobra rainha estriada)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: divisa de Mato Grosso com Rondônia
Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Holotype-of-Apostolepis-striata-CHUNB12794-from-Vilhena-Rondonia-Brazil_fig4_319213383
8) Hydrodynastes melanogigas (Cobra d´água grande do Tocantins)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: Araguaia, região de Cocalinho, Ribeirão Cascalheira e Novo Santo Antônio
Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7903-repteis-hydrodynastes-melanogigas
Principais ameaças à herpetofauna (répteis e anfíbios): grandes empreendimentos hidrelétricos, expansão da fronteira agrícola e da pecuária, fragmentação de habitats
9) Aguarunichthys tocantinsensis (bagre)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: bacia do Araguaia
Fonte: https://www.fishbase.de/summary/Aguarunichthys-tocantinsensis.html
10) Brycon gouldingi (Matrinchã)
Categoria de risco de extinção: Em perigo
Ocorrência: rio Araguaia e rio das Mortes
Fonte: http://ictio.saci.mz.usp.br/lista-taxonomica/bryconidae/bryconinae/brycon_gouldingi/
Ameaças à ictiofauna (peixes): fragmentação de ambiente de corredeiras por hidrelétricas