Indo na contramão de um ano que merecia ser esquecido, a manhã desta segunda-feira (16) acordou com uma palavra entre as mais comentadas por usuários do Twitter e do Instagram: esperança. Com o fim das eleições municipais e os resultados já completamente computados, vimos uma reviravolta no que parecia ser uma crescente conservadora no país, o que trouxe uma nova motivação para quem parecia ter desistido do Brasil.
Nas eleições para prefeitos e vereadores, vimos um recorde, como diz o termo, inédito: em São Paulo, dos 55 vereadores eleitos, 13 são mulheres, sendo uma delas trans. Erika Hilton foi uma das mais votadas da cidade e garante um espaço – merecido e de direito – para a comunidade trans no meio político. Thammy Gretchen também faz parte desse time, com um índice de votos altíssimos, e colaborando para a vitória dessa parte da população no país todo.
E não é só isso. Entre estreantes e reeleitos, em 2021 a Câmara dos Vereadores da capital paulista terá mais diversidade: foram cinco negros (homens e mulheres) eleitos para o cargo a partir do ano que vem. Em comparação com os outros 50, parece um número pequeno, mas essa virada é significativa por muitos motivos. Em primeiro lugar, mostra uma tomada de consciência da população eleitora sobre a necessidade de líderes que representem, de verdade, as necessidades da cidade e sua população.
São Paulo, claro, foi só uma amostra de um movimento que, ao que tudo indica, é nacional: o avanço de causas sociais e discussões importantes sobre o racismo, a desigualdade e as dificuldades sociais do país têm ganhado força, espaço e, claro, refletido nas urnas.
Em Belo Horizonte, por exemplo, os resultados foram igualmente impressionantes: o número de mulheres na Câmara triplicou em comparação às últimas eleições, com 11 mulheres eleitas, das 41 cadeiras da casa. A mais votada da capital mineira foi também uma mulher transgênero: Duda Salabert, professora, ambientalista e ativista.
No geral, todos os estados brasileiros elegeram mulheres para suas Câmaras de Vereadores, sendo que Porto Alegre sai na frente com a maior proporção: 30% das cadeiras serão ocupadas por elas. Já quando se fala nas prefeituras, um destaque é que, a partir do ano que vem, dez cidades brasileiras serão comandadas por pessoas que se consideram indígenas – 4 a mais do que na última eleição, em 2016.
A vitória da esperança
Dizem alguns usuários nas redes sociais que o resultado das eleições municipais é uma vitória contra o bolsonarismo, que perde força. Isso porque boa parte dos candidatos apoiados pelo presidente em exercício, Jair Bolsonaro, perderam as eleições ou não foram para segundo turno nas grandes capitais do país, a exemplo de São Paulo. Por aqui, em uma virada impressionante, Bruno Covas vai a segundo turno com Guilherme Boulos.
À exemplo também das eleições nos Estados Unidos, a intolerância não tem vez. Se até então o que víamos era uma crescente conservadora, com falas polêmicas contra pessoas das comunidades LGBTQIA+, negras e indígenas, além das próprias mulheres, se vimos o desserviço de muitas pastas do governo federal e retrocessos em relação a grandes avanços de direitos humanos e busca por igualdade, o resultado das urnas trouxe novos ares e um sinal de que, talvez, a nova política finalmente tenha chegado.
É uma ótima notícia para aqueles que tinham perdido as esperanças depois das eleições de 2018 e, principalmente, dos que olharam com tristeza os rumos que o país tomou diante da pandemia de coronavírus. É difícil dizer que uma situação tão caótica pode ter um viés positivo, mas, no mínimo, vale notar que o período de quarentena e os olhos atentos nas manobras políticas deixaram as pessoas mais conscientes sobre quem elas querem como representantes e líderes máximos do país.
Resta, agora, esperar. Muitos estados ainda contam com um segundo turno para definir o cargo de prefeito, mas, independente de resultados, é inegável que o momento pede, sim, comemoração. Dentre tantos conflitos e críticas, ao que tudo indica teremos vereadores mais diversos e prefeitos mais representativos no ano que vem, buscando colocar em pauta temas que, até então, poderiam passar despercebidos e lutando por uma política que contemple a todos e não só um grupo determinado (e bastante restrito) de pessoas.
*FONTE:YAHOO